Sobre a existência (ou não)

(academicamente falando)

São muitas questões para poucas – ou nenhuma – resposta, tudo que se pode fazer é especular e investigar o que já foi falado. Analisar, adaptar, acrescentar, concordar ou discordar. Ao tratar de ontologia, têm-se questões sobre o ser, o sentido de ser e existir, o que é real e/ou possível a partir dos conceitos de entidade, objeto, propriedade, etc.

Um famoso filósofo (Husserl) acreditava que a experiência de ser humano nesse vasto mundo trazia dúvida. Isto é, se você tem uma teoria, você pode ter certeza dela até o momento em que a põe em prática. E, caso algo dê errado, surge a dúvida. Então, criou a fenomenologia como uma investigação filosófica para analisar os fenômenos da experiência. Investigação, esta, sustentada pela ideia de colocar todo conhecimento numa base científica e deixar de lado toda e qualquer suposição – feita através da experiência –acerca do mundo.
Apesar de fracassar em seu objetivo e causar discordância em filósofos posteriores sobre o que é e como funciona exatamente esse método, Husserl teve grande influência para estudo posterior de um de seus alunos: Martin Heidegger. Não obstante, Heidegger critica o trabalho de seu mestre pois diz que a fenomenologia deve ter como primeiro passo a investigação do conceito de ser. Também acredita que para estudar apropriadamente a questão do ser, esta deve ser tratada sem conceitos profissionais formados – tanto que, em seu livro Ser e Tempo, apresenta uma série de novos termos.
A intenção de Heidegger era esclarecer o verdadeiro sentido do ser e dizia que para isso ser possível, havia necessidade de avaliar o problema a partir daquele que o coloca: dasein. Este é um dos termos – e o principal – inventado pelo autor e que significa, literalmente, “existência”. Porém, é comumente traduzido como “ser-aí”. Pode-se entender por "homem" como: o ente que tem competência para duvidar e entender o ser, a partir do qual se dá a análise da existência. Em sua obra, discorre também sobre como viver a vida humana, afirma que parte da essência desse ser é ser temporal e que passou a existir num mundo cuja existência é anterior a “ele”. O ser é apresentado a todo um passado já definido, mas para o futuro só há especulações infindáveis.
Para tentar dar um sentido ao mundo ou, em outras palavras, definir sua existência, o humano ocupa seu tempo com diversas atividades – desde aprender uma língua, viajar pelo mundo e até mesmo manter relações – e nada há de errado nisso contanto que tenha em mente permanecer numa forma de existência autêntica. Isto é, viver tendo noção de que há a morte como um fim para o ser, não se pode ver e planejar além dela, assim alcançando uma compreensão mais profunda do que significa existir. Deste modo, não simplesmente realiza projetos como dá sentido aos mesmos, mesmo que não se saiba quando irá chegar o fim.
Esses pensamentos nos dão uma base, como que um método, para ter algum conhecimento acerca do que é aquilo que há. Nessa perspectiva, se existe alguma coisa, esse algo não existe de fato, é apenas uma realidade particular. Isso significando que: “eu” enquanto pessoa nesse mundo tiver a necessidade de que haja tal coisa - por exemplo, papel e caneta para anotar um recado -, estes irão existir. Mas, a partir do momento que perderem necessidade, deixarão de existir, tornando-se apenas lembranças daquilo que foi. Pode-se dizer que tudo o que é externo a mim existe desta maneira. Todas as coisas são apenas condições da existência do “eu”, elas existem visto que “eu” preciso delas.
Diante do costume da ideia de que “eu existo”, pensar na possibilidade de não ser real se torna algo desconfortável e confuso gerando perguntas tais quais: "Como assim eu não existo? Como isso é possível? Como eu posso não existir e ainda deixar de existir após a morte?". O “meu” não-existir é uma questão que não se mostra plausível, o conceito geralmente aceito para aquilo que não existe é o que não está no mundo material. Entretanto, ideias não são matéria e ainda assim se dizem existir, o que concluir então? Mesmo que possamos ter acesso e conhecimento a todas essas coisas que fazem parte da nossa realidade, isso não implica em dizer que elas existam de fato. Talvez esta seja apenas uma de muitas realidades possíveis.

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