Mundos (Inter)Ligados

 - Onde estou? - Perguntava assustada.
 - Você tem uma segunda chance... Não estrague tudo.
 - Segunda chance para que? - Agora estava assustada e confusa. Por que não me dizem nada direto?
 - Segunda chance na vida...
 - Ah! Justo quando me acostumo com o mundo, eles me jogam em outro.
 - Não reclame! - Agora a voz que falava comigo parecia zangada. - Você tem essa chance para despedir-se das pessoas que ama. Mas não exatamente você fará isso.
 - O que quer dizer? - Ao perguntar isso, vi a mulher da voz aparecer, ela tinha algo em mãos.
 - Aqui. - Disse ela entregando-me o objeto em suas mãos. - Você entenderá. Boa sorte! - Deu um sorriso e tornou a desaparecer. Olhei para o que ela me dera, era um espelho, mas olhei para mim, e não era exatamente eu. Confuso. **Tinha uma aparência estranhamente bonita. Olhos grandes e verdes, cabelos ondulados e de um castanho bem claro, pele pálida e gélida, boca cheia (estilo Angelina Jolie), nariz pequeno, porem combinava com ela, tinha no máximo 1,60m. No geral era bonita, mas eu ainda estranhava a palidez de sua pele. Tirando isso, não parecia ter nenhum problema com o "recipiente" que estava ocupando.
 Estava muito escuro e sem movimento nas ruas, deveriam ser, pelo menos, três horas da madrugada. Fui localizar a cidade que estava. Estava andando há vinte minutos quando avistei um barzinho aberto. Corri e entrei lá. Tinha apenas um homem sentado há um canto - pelo rosto, parecia estar ali a muito tempo -, mas sem querer que ele me visse ali, falei com o cansado homem atrás do balcão
 - Que cidade é essa?
 - Você não sabe em que cidade está? - Perguntou estranhando.
 - Longa história... Não posso contar agora.
 - Hm. - Exclamou o homem.
 - Pode dizer-me que cidade é esta?
 - Você está em Águas Frias.
 - Onde é isso? - Perguntei, infeliz por minha incapacidade de aprender Geografia.
 - Santa Catarina. - Resmungou o homem de novo.
 - Quão longe de Araranguá estamos?
 - Não sei. Centenas de cidades eu diria. - Eu não sou boa em geografia, mas estou adivinhando que esse homem não é melhor.
 - Tudo bem, obrigada. - Nesse momento, sou obrigada a dar um sorrisinho. Já estava na rua quando lembrei que queria saber as horas, voltei - Ahn... Que horas são? - Ele tirou um pequeno relógio do bolso
 - São 4h18min.
 - Obrigada. - Mais um sorriso forçado. O que tenho que fazer agora? Caminhar até Araranguá para chegar a minha família?
  Esses anjos realmente gostam de ver-me perdida.
 ****
 Estava andando desde que sai do bar, e agora esta amanhecendo. Eu deveria estar sonolenta agora, por passar a noite andando, mas não sentia nem um pouco de cansaço. Deveriam ser 6h30min, pela fraca claridade que fazia. Continuei andando, encontrei um garoto sentado a porta de uma casa - assustador -, mas perguntei
 - Que cidade estamos?
 - Não sabe em que cidade está? - Perguntou ele com humor.
 - Não, longa história. - Mesma coisa. - Pode dizer-me, por favor?
 - Claro. Você está em Lages.
 - Lages? - Geografia, geografia, geografia... Seja lá qual o próximo mundo que irei, preciso lembrar-me de estudar geografia.
 - Sim, em Santa Catarina.
 - Seria cidade vizinha de Águas Frias? - Perguntei temendo a resposta, ele riu alto.
 - Nem perto. Águas Frias fica bem longe daqui. - Certo, e como vim parar em Lages em poucas horas?
 - Que horas são?
 - Quase 6h30min.
 - Como vim parar aqui? - Perguntei em voz alta, sem querer.
 - O que quer dizer?
 - Ai ai... - Eu teria que falar agora. - As 4h18min eu estava em Águas Frias, comecei a andar em procura de alguém para ajudar-me a chegar em Araranguá, e... Bem, aqui estou.
 - Como chegou aqui em duas horas? - Como se eu soubesse.
 - Não sei, estava apenas caminhando.
 - Se quer chegar a Araranguá, posso ajudá-la, estava pensando em sair da cidade. Mas saiba, não sou tão rápido para caminhar. - Ele riu, tive que rir junto... Melhor do que acaba sozinha em algum lugar no meio do oceano. O sol estava começando a aparecer, minha pele começou a arder, eu não entendi o porquê, mas estava ardendo muito, escondi-me em uma sombra, e a ardência passou.
 - O que houve? - Perguntou-me quando percebeu que eu parara de andar.
 - Minha pele, começou a arder quando peg... - Ai não... Já sei o que aconteceu. Andar rápido, pele pálida e arde quando exposta ao sol, aparência estranhamente bonita... Virei um personagem de Crepúsculo, pelo lado otimista.
 - Eu sou vampira?
****
 - De todas os corpos disponíveis, eles deram-me uma vampira... Vampiros nem existem! Exitem!?
 - Na verdade, existem.
 - Como sabe? - Como vampiros existem? Se for assim, quero ver o Edward aqui.
 - Bem, obviamente, você é uma... E bem... Também sou.
 - O que? Você é vampiro? Eu nem acredito que existem, que sou uma, e você diz-me que é um?
 - Sim, bem, na verdade estou no corpo de um vampiro. - Falou com a voz falhando. - Mandaram-me para ajudá-la em seu caminho.
 - Meu caminho ao que? Primeiro achei que estava indo despedir-me de minha família, depois percebi que já havia feito isso. Agora descubro que sou vampira, o que esses mundos não fazem para te deixar louca?
 - Você precisa entender. Estavam tentando lhe dar a única coisa que você não teve...
 - O que seria?
 - Alguém para amar... - Falou sussurando.
 - Tive muitas pessoas para amar, e fui amada por muitas pessoas.
 - Estava falando de um namorado, aquele romance que você sempre quis.
 - E planejavam fazer de você meu namorado?
 - Falando assim, até parece que tem nojo de mim... - Ele riu sem humor. - Você lembra alguém que perdeu a dois anos? Uma pessoa que você amava, mas nunca teve a chance de falar isso?
 - Adam? - Queria chorar.
 - Sim, eu mesmo... Sabe, eu sempre te amei, mas aquele medo de rejeição nunca some. Quando soube que gostava de mim, até tentei falar com você, mas nunca dava certo. Acho que era destino morrermos juntos. - Sorriu, e estava mesmo chorando, por que ele segurou meu rosto e limpou uma lágrima que escorria, então beijou-me suavemente.
****
 Fomos caminhando lentamente pela rua, estava amanhecendo, mas nem ligamos, pois em segundos, estavamos deixando os corpos e indo para nosso mundo.

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