Hurricane.

   Quando a vi sentada naquela escada, sozinha, meu coração deu uma pontada, não gostava de sentir isso sabendo que qualquer pessoa poderia saber dessa fraqueza e usá-la para me atingir. Ela estava com aquele ar tão inocente, concentrada em seu livro com os cabelos ruivos cacheados escondendo parte do rosto pálido com olhos verdes e lábios avermelhados por sua mania de morde-los o tempo todo.
   Nem havia percebido que tinha caminhado para perto. Antes que congelasse ali e ela me percebesse a encarando, sentei um degrau abaixo e respirei fundo. Vi-a tirar os olhos do livro e logo eles estavam nos meus, deu um sorriso torto e voltou a ler. No nervosismo, perguntei o que estava lendo, sua reação foi me mostrar a capa do livro e depois colocou o marcador e largou-o junto ao celular.
   Praticamente entrei em pânico sabendo que ela esperava que eu falasse. Até tentei, mas nenhum som saia de minha boca. Seus olhos vieram mais uma vez ao encontro dos meus.  Segundos depois ouvi o sinal bater. Levantei tão rápido que em seguida me arrependi, voltei meus olhos discretamente a ela e percebi certa decepção, mas já era tarde demais. Andei uma pequena distância até a porta e virei, olhando mais uma vez para a escada, os olhos daquela garota ainda me acompanhavam. Mais uma vez, me percebendo, deu um meio sorriso e então virou para pegar suas coisas para ir à sala de aula.

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