23/03/2015

   Ao "acordar" para um novo dia - digo acordar porque foi como se estivesse abrindo os olhos pela primeira vez no dia, mas na verdade já estava quase indo dormir -, primeiro pensou nos amigos dos quais sentia falta, depois no trabalho, depois no vinho que tanto desejava estar saboreando. Pensou e pensou durante vários minutos e, então, sentiu, sentiu tudo com um baque muito forte, quis chorar. Há algum tempo, estava muito confusa com tudo que estava acontecendo. Estava duvidando muito. De tudo. Num impulso, soltou o coque que prendia seu cabelo na esperança de que fosse sentir uma certa liberdade ao tirar aquela leve pressão na cabeça, porém o que estava incomodando no consciente não seria resolvido com um simples soltar de cabelos. Os jogava de uma lado para o outro, brincava com a maciez em que estavam, lembrou quando tirou a conclusão de que o cabelo reflete no humor: quando está feliz, ele fica macio, sedoso, com um brilho diferente; quando triste, fica estranho, seco, apontando para todos os lados, uma bagunça bem louca. Sorriu rapidamente porque percebia agora como estava errada, a tristeza daquele momento não estava refletindo nem um pouco na aparência. Talvez isso fosse bom, mas todas as indicações diziam que era ruim. Se assim está, talvez porque já tenha acostumado? Difícil dizer. Sempre há possibilidades.
   O ambiente do quarto com livros em cima da cama e escrivaninha, mochila apoiada na cadeira, uniforme igualmente na cadeira, mas também no chão e em cima da cama, era uma bagunça confortável. A trilha sonora do momento a fazia sentir... Nostálgica? Não necessariamente ruim, nem, tampouco, bom. Também não exatamente diferente, já sentira antes. Apenas incomum. Raro. Pensava em tudo que estava acontecendo em sua vida no momento e, sem nem concluir esse pensamento, pensava que tinha muito tempo para pensar. Gostava de pensar, mas sentia que às vezes isso atrapalhava. Atrapalhava o que? Também tinha que pensar sobre. Atrapalhava suas decisões.. Talvez.
   Queria entender o que era melhor para ela, mas sempre que chegava a alguma conclusão, aparecia uma voz, bem baixinha, quase inaudível jogando perguntas e a fazendo duvidar novamente. Ficava indignada com o porquê tinha que duvidar tanto, "para com isso mulher, só segue a vida" era o que pensava e em seguida ria sozinha. Seguir a vida era difícil, a vida joga muitas coisas ao mesmo tempo, não dá de se agarrar a todas elas, decisões precisam ser tomadas e muitas vezes, decisões que não são muito agradáveis. Decisões que podem ser terrivelmente desconfortáveis. Tem aquela fala de um episódio da série que gostava de assistir que pode parecer um pouco de conforto: "às vezes você sabe que é um erro, mas não sabe que é um erro então você precisa cometer o erro para saber que era mesmo um erro".

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