Volte-se e conheça-se constantemente a si mesmo, pois ninguém mais terá as respostas para a sua vida. |
É interessante pensar agora onde começou o interesse pela Filosofia. A única coisa que lembro é de ter lido sobre o livro "O Mundo de Sofia", e como ele cobria grande parte da história da filosofia ao mesmo tempo em que trabalhando com uma literatura fictícia. Por meses fiquei atrás desse livro, desejando me afundar naquelas páginas. E então, naquele lindo ano de 2010 esse desejo foi realizado. Uma semana de leitura que, posso dizer, fica marcada como a semana que mudou o curso da minha vida.
Claro que na época (e ainda hoje) me faltava muita experiência de vida para compreender grande parte do que se discute no livro, mas a teorização de diferentes mundos e realidades sempre foi uma paixão inerente no meu ser. Curiosamente, o que me trouxe a pensar e escrever sobre isso hoje foi, na verdade, uma reflexão sobre o mundo em que vivemos atualmente - não apenas uma teorização, mas realmente uma tentativa de vê-lo como é.Começou com a preparação de um trabalho/aula que tenho que apresentar daqui alguns dias. Há algumas semanas decidi que meu tema seria a introdução à Filosofia. Desde então, venho pensando e mudando de ideia inúmeras vezes acerca de como irei apresentar isso. A proposta é que seja uma aula para o Ensino Médio, uma introdução da Filosofia para quem nunca teve contato com ela antes. Minha ideia é de que, primeiramente, precisa-se demonstrar a importância da Filosofia no mundo e o porquê se deve estudá-la.
Nesse momento encontro muita dificuldade. Consigo entender o que é Filosofia; consigo ver a utilidade que tem no mundo e na sociedade; consigo pô-la em prática na minha vida (grande parte das vezes, pelo menos); consigo enxergar que ela é uma esperança para o mundo melhor que tantos de nós ainda queremos alcançar. Porém, o que me parece um empecilho no meio do caminho é a falta de habilidade para transmitir isso ao próximo. Nunca pensei que teria tanta dificuldade em passar algo que está em mim/meus pensamentos para a realidade (e olha que em três anos de faculdade muita dificuldade do gênero já se fez presente).
Mas aqui vejo, então, uma resposta a essa pergunta que vez ou outra volta à mente: "Por que Filosofia e não outra coisa?". Para plenamente entender o que se passa aqui, vamos voltar um pouquinho na história de vida: Quando eu tinha em torno de 10 anos de idade, uma amiga faltou aula por estar doente e pediu para eu ir na casa dela levar os deveres dos dias que tinha faltado. Em meio a esses deveres, tinha uma tarefa de matemática de um assunto o qual ela tinha perdido a explicação. Logo, lá fui eu explicar o conteúdo pra ela. No meio de uma fala, eis que ela me para e diz "nossa, tu explica muito bem, tu deveria ser professora". Nesse momento, foi como se um véu tivesse passado diante dos meus olhos e, de repente, eu via tudo mais claro.
Não foi a primeira vez que tive esse sentimento, e com certeza também não foi a última - lembro vividamente, por exemplo, de um momento muitos anos depois, durante um treino de handebol, em que pensei "cara, é isso". Inclusive, a ideia de ser professora permaneceu em limbo por um tempo. Mas então por que essa ideia em particular está tão forte hoje? É válido observar que, com o passar dos anos, cada vez mais fui descobrindo o quanto adorava preparar trabalhos, apresentá-los (apesar da grande timidez que me perseguiu durante toda a vida escolar/colegial), assim como de ajudar amigos nos estudos.
Após ter contato com a Filosofia através d'O Mundo de Sofia, tive muita curiosidade sobre como seria estar em uma sala de aula, trabalhando as questões filosóficas com um público tão diversificado. Tendo acesso a tantas ideias e diferentes linhas de raciocínio. Entretanto, apenas cerca de um ano depois dessa leitura, quando entrei no 1º ano do Ensino Médio, tive a primeira aula de Filosofia na minha vida. E devo dizer que ela foi extremamente decepcionante - assim como todas as outras que se seguiram. Durante todos os três anos de Ensino Médio não tive sequer um professor que fosse realmente formado em Filosofia. No último ano mesmo, o famigerado Terceirão, chegamos a um ponto onde tínhamos uma aula de 40 minutos por semana para dividir (sim, isso mesmo, dividir!) entre Filosofia e Sociologia.
Desde então, minha vontade tem sido a de mostrar para o mundo o porquê deveria-se dizer sim à Filosofia. Não que as pessoas tenham que cursar uma faculdade de Filosofia, mas que a implementação dela no Ensino Médio deveria ser levada mais a sério. Em meio a tudo isso, e também em meio a uma cansativa pesquisa sobre profissões, minha conclusão foi que a maneira de atingir meu objetivo era, de fato, ser professora. Obviamente, minha inocência do tempo mal sabia no que estava me metendo. Visto que a faculdade é a própria definição de crise - ela vem em todas as formas possíveis: crise de realidade, crise existencial, crise do final de semestre (ah, o final de semestre!).
É até engraçado pensar agora, pois ninguém da minha época de escola deveria imaginar que um dia aquela menina que foi definida por "aquela loka mal fala" acabaria se tornando professora. Realmente, nunca imaginei que seria a pessoa que sou hoje, muito menos que estaria no ponto que estou hoje. Mas ao mesmo tempo sei que estou exatamente onde deveria estar, exatamente onde quero estar.
Até recentemente tinham sido três anos na minha vida de "o que eu faço/estou fazendo da minha vida". E, honestamente, tenho muito orgulho de mim mesma por ter chego até aqui, não posso ressaltar com meras palavras o quão difícil foi esse caminho. Mas já utilizo a expressão "até recentemente" pois há algo diferente. E o que mudou nesse meio tempo? Diria que foi uma re-descoberta do grande amor que tenho pela Filosofia e pela relação ensinar-aprender. Nos últimos semestres peguei mais matérias sobre isso, li muito sobre a educação da Filosofia, e apenas posso dizer que: "cara, é isso".
Minha expectativa e animação para entrar em sala e por a Filosofia em prática é tanta que muitas vezes não sei me conter. Frequentemente preciso fazer uma nota mental para ir com calma e não sair pulando passos essenciais do percurso. Sei que minha dificuldade em demonstrar a importância dessa educação vai ser superada, e que vai fazer alguma diferença positiva no mundo. Por menores que sejam, consigo ver essas mudanças positivas ocorrendo. E, ainda que muitas pessoas percam suas esperanças no meio do caminho, sei que há muitas outras que continuam tentando o melhor que podem. Juntamente dessas, coloco todas as minhas melhores intenções em tudo que faço.
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