Tinha um Ego no Meio do Caminho

"Você pode nunca vir a saber, a não ser que experimente. 
Porém, a menos que reflita sobre suas experiências,
 não será capaz de incluí-las em seu progresso."
     Ser sincero sem ser egoísta é, na verdade, algo bastante difícil. Talvez não egoísta, essa não parece
ser a palavra certa. Não consigo pensar numa palavra adequada. Ser sincero traz muitas mágoas, e ligar com elas é complicado - tanto com suas próprias, quanto com as dos outros. Parece que, quando há outro envolvidos, apesar de as coisas se tornarem um tanto mais confusas, elas acabam sendo um tanto mais fáceis também. Mas por que eu digo isso?
     Ser sincero em relação à realidade de outros parece mais simples do que lidar com suas próprias verdades. Muito mais fácil ajudar outras pessoas do que ajudar a si próprio, muito mais fácil mostrar um caminho para que outras pessoas tomem decisões do que tomar suas próprias. Admitir e falar "verdades" de como você vê outras pessoas é muito mais fácil do que admitir e falar para si mesmo tudo aquilo que gostaria de mudar (ou mesmo o que gostaria de manter!).
     Muitas vezes nos encontramos com medo de falar bem de nós mesmos por pensarmos que alguém irá nos julgar como "egocêntrico", "convencido", dizer que estamos "se achando". O que parece provocar um conflito interno de "preciso provar que estou certo", ou ainda "é, tá certo, não é tudo isso, melhor parar por aqui". E as pessoas que causam esse tipo de reação muitas vezes nem percebem o que estão gerando.
     Nesse processo de tentar analisar e entender o mundo e as pessoas que nele vivem, procuro rever minhas ações e decisões (ou a falta delas) e analisar o que me levou até elas. Entender o que ocorreu no meio do caminho que me levou para um lado ao invés do outro. Nesses momentos, é evidente as inúmeras possibilidades que há. Cada pessoa tem um caminho de vida diferente, e vivencia os momentos e experiências com sentimentos únicos. Sentimentos, inclusive, que normalmente não são expressados.
     Isso me leva a algo que vem batucando na minha cabeça ultimamente: empatia. Essa palavra sempre esteve presente na minha vida, mas era apenas isso: uma palavra. Realmente sentir empatia é algo completamente diferente. Posso dizer que sempre considerei os sentimentos daqueles ao meu redor, sempre tentei estar ali para dar o que precisassem - fosse um conselho, um abraço, mesmo minha distância ou o mero silêncio da minha presença. Também reconheço que muitas vezes falhei e trouxe muitas mágoas.
     Porém, em ambos casos, sempre me parecia ter algo faltando. Sentia um enorme vazio, o tempo todo. Levaram 21 anos e algumas psicólogas no meio do caminho para me fazer entender que não basta compreender o que outros estão sentindo e como isso os afeta. É preciso também entender o que eu estou sentindo. Que empatia não se trata de tentar entender sentimentos alheios, ou tentar senti-los em si, ou mesmo lembrar de momentos para tentar comparar com suas próprias vivências.
     Acontece às vezes de alguém falar "tal coisa aconteceu e estou me sentindo assim", e aí você fica pensando "bom, não entendo porque isso já aconteceu comigo e me senti diferente, mas talvez seja parecido com o que senti tal vez, então faz sentido". Não diria que isso seja errado, talvez até seja uma parte essencial do processo. Mas não basta pensar para si e concluir que agora você entende outra pessoa, a comunicação é parte fundamental.
     E a comunicação é difícil, ser sincero ao comunicar-se é extremamente difícil. Muitas vezes acabamos deixando nosso ego influenciar nossas falas, acabamos machucando alguém com meras palavras apenas porque elas nos machucaram primeiro. Nos recusamos a pedir desculpas porque a outra pessoa nos machucou primeiro, então ela que deveria pedir desculpas primeiro. Desistimos de relacionamentos e amizades com pessoas que nos fazem tão bem pelo mero fato de que sentimentos que elas nunca vão nos entender quando, na realidade, nós mesmo não estamos nos comunicando e tentando entender a outra pessoa.
     Empatia parece se tratar muito mais de identificar que somos seres humanos e, como tais, somos frágeis. E empatia era o que me faltava.  

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